Na oferta?

Já dizia John Steinbeck em Vinhas da Ira: "A necessidade é um estimulante do ideal; o ideal, estímulo da ação". Bem ou mal a frase é minha parceira de dia a dia e me acompanha durante esse tempo que estou em Lajeado. No começo dava um jeito de driblar a falta de grana indo de mercado em mercado atrás de ofertas. A pernada também era uma forma de matar tempo, já que eu não tinha o que fazer nas horas vagas. A peregrinação era sagrada. Terça-feira era dia dos frios na Rede Vivo. Quinta-feira a vez de suprir o estoque de frutas no Imec. De vez em quando na segunda-feira dava para barganhar uma promoção no setor de pães ali no Rissul. Tinha dias que as ofertas não eram lá grande coisa e nem me prestava a ir.

Ah...não contei. Antes de virar repórter, trabalhava de diagramador à noite. Sabia de antemão onde comprar os pêssegos mais baratos ou a laranja mais suculenta. Mas mesmo assim poderia voltar para casa de mãos vazias. Nem sempre a oferta era agradável aos olhos. Os mercados tinham um critério bem peculiar para escolher os produtos que estariam na promoção, que nem sempre envolviam a concorrência. Uma vez um molho de couve estava por R$0,26! Uma pexincha!! Corri para a Júlio e o que encontro: folhas murchas e queimadas (foi bem depois que teve uma estiagem, então imagine: até suei a camisa para chegar lá). Outra vez fui aproveitar o preço baixo do tomate, que chegou a exorbitantes R$3 o quilo. Literalmente atravessei uma cortina de moscas, resultado de uma mistura entre legumes meia boca e aqueles que deveriam estar a sete palmos. O jeito era apelar para Jesus Cristo e ir embora.


Outra vez comprei, paguei e tive que voltar. O quilo do mamão estava extremamente em conta, daí resolvi levar dois grandes. Dei um rolé pelo mercado e de quebra enchi o cesto em dois toques. Saí do mercado meio desconfiado. A conta era mais cara que a prevista. Em casa chequei produto por produto com a nota fiscal. E não é que tinha coisa errada! A caixa tinha registrado duas vezes o mesmo mamão. Ou seja, na teoria comprei três. Na prática levei dois. Retornei bufando, louco por um bafo. A atendente não estava. "Foi pro intervalo", praguejou uma voz antipática. Expliquei a situação e a louca me deu às costas. Vi que fez uma ligação e logo me chamou: "toma aqui teu dinheiro", disse. Fiquei na espera por uma desculpa ou algo do gênero, mas acho que era pedir demais.

Também usava a desculpa de ir ao mercado quando estava de mal com a vida. E as ofertas não importavam tanto, desde de que não gastasse muito. Pensava: "frutas e verduras não vão me fazer mal". Foi nessa leviedade que um dia me deparei em casa com duas sacolonas com nada menos do que 1kg de pêssego, 1,5kg de laranja, um abacaxi e um cacho de banana. Não tenho filhos e moro sozinho. Então aquilo deveria ser consumido o mais depressa possível. Dito e feito: em uma semana a geladeira já estava vazia, o que me dava a vez para correr para as prateleiras. Sem o menor indício de impulso consumidor, apenas pelo simples ato de aproveitar as ofertas espalhadas pela cidade.

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Foto de Francieli Rebelatto (colega de faculdade e de conversas endiabradas)

Comentários

  1. Aiii colega que situação heim?? Olha que já passei por coisas bem parecidas com esta...A educação é uma virtude de poucos e com o tempo a gente vai percebendo isso..Não é mesmo???Hehehe adorei teu blog vou voltar sempre para dar uma espiadinha nas histórias aqui descritas que acabam se tornando um tanto engraçadas...Bjooo da colega Carol Gasparotto..

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  2. Hehehe...volte sempre! Amanhã tem postagem nova. Ah! Quero ver um blog teu também! Bjoos

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  3. Desconfie sempre quando as coisas estão muito baratas! Infelizmente, nós, lajeadenses não temos muitas opções para frutas e verduras. Sobra as fruteiras com preços abusivos...pronto falei!
    Até.

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