A caixa d’água

A pauta parecia simples e sem muitos rodeios. Caixa d’água estoura em prédio de mais de dez andares na Avenida Alberto Pasqualini. Era meu dia de fazer televisão e fui com o cinegrafista. Como não conhecíamos o lugar demoramos para achar o elevador. Neste meio tempo surge uma mulher loira extremamente irritada. “Acho que ao invés de fazer essa reportagem vocês deveriam ir atrás dos bingos irregulares”, disse. Retruquei e disse que eram situações distintas e afinal não sabia quem era ela, já que não tinha se identificado. Logo depois descobri que era a síndica do prédio, que prontamente me negou a entrada. “Só sob ordem judicial ou autorização do proprietário do apartamento”. Descobri depois que não precisava de nada, já que o apartamento era alugado e a inquilina tinha nos autorizado a entrada. Na verdade, foi ela quem nos ligou. No relato, dissera que ficou até as 6h limpando o espaço, alagado.

A síndica chamou um advogado que repetia as mesmas palavras da mulher. Disse que estava ali para fazer meu trabalho e que queria conversar com a senhora que tinha nos ligado. Parti para o interfone com a mulher no meu encalço, mas antes tinha deixado o microfone com o cinegrafista, em uma tentativa de amenizar a confusão. Me disseram que o interfone dela tinha sido desligado, por isso recorri aos vizinhos dos andares de baixo. Fiz isso em um momento de distração da mulher. A ideia surtiu efeito, embora a síndica estive ao meu lado aos berros. O filho do dono do apartamento também surgiu do nada e gritava: “TU NÃO VAI ENTRAR”.

Enquanto esperava a reclamante descer fiquei ali sozinho abaixo de xingamentos. A minha frente estava a parte gradeada que dava acesso ao elevador. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Ah! Estava sem câmera, sem máquina e apenas portava meu crachá com a insígnia Rede Vale de Comunicação. A síndica tentou fazer as pazes em um momento de cinismo. Eu disse que não achava necessário uma atitude grosseira, por que só estava fazendo meu trabalho. Mas a paz demorou pouco. A inquilina desceu, chorando e irritada. Não entendia o entrave. O cinegrafista ficou paralisado com a situação e não filmou nada. Nem mesmo a confusão. Não tínhamos imagens, embora tenha conseguido fotos do apartamento. Por isso, resolvemos ir embora, já que tinha outra reportagem para fazer e não conseguiria fechar esta com o que tinha.

Peguei as fotos em uma loja ao lado e neste meio tempo a síndica tinha chamado a Brigada Militar. Voltei para a redação com a ameaça de ser preso, sem ter feito nada. Quem leu até aqui deve ter percebido algo de errado. Seria grave acusar, mas por que essas reações? Fico até hoje pensando, embora tenha passado meses. Talvez tenha sido um aprendizado para o repórter foca, mas a duras custas.

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