Há quatro anos...

Chegar na casa dos meus pais é como passar por um ritual imperceptível. Após o abraço apertado ainda sobre o capacho, as boas-vindas prosseguem com uma conversa que dura no mínimo uma hora. Os "velhos" corujas querem saber das novidades, mesmo quando não as há. E não adianta alegar cansaço ou outra desculpa. No sábado de madrugada o momento sagrado não foi esquecido, mas dessa vez confesso que não tinha muito a dizer. Meu pai não perdeu a oportunidade e resumiu o que ocorrerá em Santa Maria desde minha última visita, no final de julho. "Sabe quem foi preso? O menino aquele que roubou o dinheiro da formatura." O rapaz fazia História na federal e tinha desaparecido com a grana dos colegas. Ao todo eram mais de R$20 mil. Isso ocorreu há quatro anos, quando estagiava em um jornal online recém criado na cidade. Não me recordo como a história veio à tona na pequena redação e também não sei com a pauta parou nas minhas mãos. De qualquer maneira, vibrei! Tinha feito poucas reportagens para o site e aquela seria minha primeira matéria polêmica.

Conhecia o estudante de vista, pois ele sempre estava na assessoria de imprensa do Centro, onde eu também trabalhava. Mas isso não me ajudou em nada para conseguir o contato. Lembro que deu um trabalho, mas enfim, ligação feita. Ele só falaria na presença do advogado e em um lugar público. Combinamos de nos encontrar na praça de alimentação de um shopping, mas ele não apareceu. Parti para dois outros colegas que também foram acusados do roubo. Era um casal de namorados, que tinham auxiliado W. na organização de cursos e da semana acadêmica. Faziam isso para juntar grana para a formatura.

A menina me atendeu por telefone calmamente, mas poucos minutos de conversa foram suficientes para deixar a voz embargada. Ela não entendia da acusação e como eles tinham entrado no bolo. Ambos me conheciam, por isso não pouparam detalhes e me adiantaram que uma funcionária da Universidade teria participado do desvio, pórem não estava mais no país. Ela teria fugido com o dinheiro para Cáncun, no México. Pronto, tinha a história em primeira mão e só faltava falar com a mulher, porém o telefone estava desligado. Para completar tinha ainda uma entrevista com os colegas revoltados.

Antes mesmo de começar a escrever, o trabalho todo foi por água abaixo. A funcionária tinha participado da mesma campanha para reitor que os proprietários do site e era bem conhecidinha em Sta Maria. Eles duvidaram da história e a matéria foi engavetada. Simples assim, mesmo que fóssemos furar os dois jornais diários da cidade. Acho que foi minha primeira frustação como "quase jornalista". Dois dias depois, a concorrência largou a história bem aquém do que eu tinha apurado. O desânimo tomou conta, mas a partir dali comecei a perceber o amargo jogo de interesses na profissão. Cedo demais? Talvez.

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Canudo na mão
Eu e minha irmã chegamos a ir na formatura, bem diferente da planejada, em um auditório do próprio Centro. Foi um momento bem tenso, já que o casal de namorados foi na cerimônia. Afinal, eles estavam também se formando. Na hora de entregar o canudo aos dois os aplausos deram lugar as vaias. Eu achei que ia rolar baixaria, com lançamento de ovos e tomates, mas terminou bem, exceto pelos xingamentos. O interessante é que a decoração das cadeiras, com TNT, não se estendia aos lugares dos dois alunos. O contraste era visível, embora o material fosse bem baratinho.

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